Quando falamos em segurança digital, a maior parte das estratégias ainda se concentra em proteger usuários humanos — colaboradores, prestadores, parceiros. Mas existe um tipo de identidade que cresce silenciosamente nos ambientes corporativos e que muitas vezes não recebe a devida atenção: as identidades não humanas.
O que são identidades não humanas?
Identidades não humanas são contas ou credenciais usadas por aplicações, serviços, scripts, bots e máquinas para se autenticar e interagir com outros sistemas. Exemplos incluem:
- APIs acessando bancos de dados;
- Scripts de integração entre sistemas;
- Serviços automatizados em nuvem;
- Contêineres ou workloads que precisam autenticação;
- Ferramentas CI/CD que fazem deploys automáticos.
Essas identidades, embora não sejam pessoas, têm acesso privilegiado e, muitas vezes, crítico. E é exatamente por isso que são alvos atrativos para invasores.
Por que são o elo mais fraco?
- Falta de visibilidade
Muitas organizações não têm um inventário completo dessas identidades. Elas são criadas, esquecidas, reaproveitadas… e permanecem ativas mesmo após mudanças nos sistemas. - Credenciais expostas
É comum encontrar chaves de API, tokens ou senhas hardcoded em scripts, armazenadas em plain text ou vazadas em repositórios públicos. - Privilégios excessivos
Identidades não humanas costumam ter permissões além do necessário, muitas vezes com acesso irrestrito a ambientes sensíveis. - Ausência de rotação e expiração
Enquanto usuários humanos trocam senhas periodicamente, identidades de máquina permanecem com as mesmas credenciais por meses — ou anos.
Casos reais e riscos
- Vazamentos de chaves AWS em repositórios GitHub levaram a sequestros de infraestrutura em nuvem.
- Invasões sofisticadas exploraram credenciais de serviços mal protegidos para movimentação lateral em ambientes corporativos.
- Explorações de APIs sem autenticação adequada permitiram acesso indevido a dados sensíveis.
A mensagem é clara: as máquinas também precisam de identidade — e governança.
Como proteger identidades não humanas?
- Descubra e catalogue todas as identidades de máquina no seu ambiente.
- Implemente o princípio do menor privilégio, mesmo para scripts e serviços.
- Use cofres de segredos (vaults) para armazenar e proteger credenciais.
- Rotacione senhas e tokens automaticamente.
- Aplique políticas de autenticação forte também para serviços, como certificados e autenticação mútua.
- Audite e monitore constantemente o uso dessas credenciais.
Conclusão
Proteger identidades não humanas é um passo fundamental na evolução da segurança cibernética. Ignorar esse ponto é deixar uma porta aberta, invisível, mas acessível.
Se você está construindo uma estratégia de Zero Trust, lembre-se: Zero Trust também é para robôs.
E, muitas vezes, é neles que o elo mais fraco da sua cadeia de segurança está escondido.